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Suzano: Treze Anos de Solidão

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De minha janela, vejo o rodoanel serpenteando o horizonte, os contornos da malha urbana de Suzano, um pedaço de Mogi das Cruzes, o sopro de Poá. Vejo também um silêncio pesado, feito de promessas não cumpridas, de obras morosas, de bairros esquecidos. É o silêncio da cidade que vive uma espécie de Macondo paulista , atravessada não por cem, mas por treze anos de abandono. Gabriel García Márquez escreveu que Macondo foi condenada a cem anos de solidão porque não soube decifrar seus próprios pergaminhos. Suzano, hoje, carrega seus pergaminhos em relatórios oficiais, discursos de campanha e planos que não viram futuro. Pergaminhos que anunciam não um destino inevitável, mas um ciclo de repetição: hospitais que não abrem as portas, educação que caminha por osmose, centro que se desconecta do tempo, várzea aterrada pelo peso da especulação. Na saúde, o povo sofre golpes sucessivos: o hospital de retaguarda sem portas abertas, o hospital regional transformado em obra midiática, a Santa C...

Inês Paz: oposição firme e compromisso com Mogi das Cruzes

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A trajetória de Inês Paz (PSOL) em Mogi das Cruzes é marcada por uma coerência rara: a combinação entre a firmeza da oposição aguerrida e a dedicação incansável às políticas públicas que transformam a vida das pessoas. Seu mandato se distingue pelo posicionamento crítico e duro diante de ações do governo que contrariam os princípios democráticos e o programa do PSOL. Mas, ao mesmo tempo, Inês nunca deixou de colocar a cidade em primeiro lugar. Há mais de três décadas, Inês é referência democrática e popular em Mogi. Com mandato ou sem mandato, sua militância pela justiça social, pelos direitos humanos, pela educação pública de qualidade, pela defesa das mulheres e pela luta socialista segue inabalável. Sua presença é memória viva de que a política não é apenas ocupação institucional, mas vocação de serviço coletivo. O gesto recente, ao lado da prefeita Mara Bertaiolli (PL) na cerimônia de assinatura das reformas em 16 UBSs do município, traduz essa maturidade política. Sem abrir mã...

O “quiz” de Netanyahu e a doença da humanidade!

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Na tribuna da Assembleia Geral da ONU, Netanyahu ergueu um cartaz em forma de “quiz” e perguntou quem grita “Morte à América”. A cena, que parecia jogo de auditório, não escondia sua verdadeira intenção: transformar slogans da resistência em caricatura, simplificar décadas de história em uma resposta de múltipla escolha, fingir que o mundo pode ser dividido entre os que aceitam o império e os que, por ousarem resistir, devem ser punidos como terroristas. Esse gesto revela, mais do que força, a fraqueza. Pois quando um governante precisa recorrer à infantilização do debate para sustentar seu discurso, é sinal de que carece de legitimidade e que sua narrativa não se sustenta sem o recurso ao medo. Ao citar o slogan, Netanyahu não explica a sua origem, não fala do colonialismo, das sanções, das ocupações, dos golpes que os Estados Unidos patrocinaram. Prefere ocultar que esse grito, ainda que duro e muitas vezes manipulado, nasceu como voz contra a dominação, como resposta ao saque, com...

O Fio da História e o Limiar do Novo Tempo

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Se os meios de produção fossem apenas máquinas, fábricas e escritórios, poderíamos tratá-los como objetos a mais na galeria do mundo. Mas não: eles são a própria memória material da humanidade. Cada engrenagem contém séculos de suor, cada linha de código resume noites insones de pesquisa, cada arado e cada servidor carregam as mãos invisíveis de milhões de trabalhadores. Apropriá-los como propriedade privada é empobrecer a história. Eles pertencem ao coletivo, não por decreto, mas por essência: são frutos da vida comum. A política, nesse quadro, não é mero arranjo de interesses, mas arte e ciência. Arte, porque dá expressão aos sonhos humanos; ciência, porque tenta compreender a natureza do homem e da sociedade. E, se é arte e ciência, é também teleologia: trabalha para que o fim aconteça, isto é, para que os valores e os sujeitos de direito não fiquem apenas em papéis, mas caminhem, respirem e moldem o tempo. É nesse ponto que surgem as forças. As internas — o pão, a moradia, o tr...

O veneno suave da notícia patrocinada

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Há coisas que parecem pequenas, passageiras, quase invisíveis. Uma matéria de jornal, por exemplo. Ninguém se detém muito: lê-se no intervalo do café, comenta-se na rede social, esquece-se depois. Mas, às vezes, nessas pequenas coisas mora o destino de um país. Foi assim quando li a matéria paga da Bloomberg sobre a Eletrobras. Dizia o texto, em tom solene: “A maior concessionária de energia elétrica da América do Sul se espalha pelo Brasil (...). Assim como o país que ajudou a criar, a Eletrobras deveria ser uma potência econômica.” Parecia elogio, mas era veneno. Pois não foi a Eletrobras que criou o Brasil — foi o Brasil, por meio do Estado, que criou a Eletrobras em 1962. Ali, no limiar da história, um país ousava afirmar sua soberania, erguer empresas próprias, sonhar com desenvolvimento. E dois anos depois, em 1964, veio o golpe militar patrocinado pelos Estados Unidos, para conter o excesso de ousadia de um povo que queria andar com as próprias pernas. Décadas mais tarde, a ...

A Importância da Parentalidade e do Desenvolvimento Infantil

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Convite para a Live: Como fortalecer vínculos e lidar com comportamentos difíceis na infância No próximo dia 22 de setembro, às 19h30 , acontecerá uma live especial sobre Parentalidade e Desenvolvimento Infantil , transmitida gratuitamente pelo canal @PsicoEducareAcolher no YouTube. O encontro será conduzido pelas psicólogas Stefany Montagner (CRP 06/199657) e Ananda Bolson B. Lopes (CRP 06/220204) , profissionais comprometidas com o acolhimento, a educação e o fortalecimento das relações familiares. Por que este tema é tão relevante? Educar uma criança é uma das tarefas mais desafiadoras e, ao mesmo tempo, mais transformadoras da vida humana. No entanto, a parentalidade não vem com manual: diante de situações como birras, dificuldades de convivência ou comportamentos desafiadores, pais e responsáveis muitas vezes se sentem perdidos, sobrecarregados e até mesmo culpados. O encontro se propõe a oferecer ferramentas práticas e fundamentadas na Psicologia Comportamental , capaze...

Vento novo para a segurança pública: da defesa social e prevenção da violência à “Universidade da GCM”.

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A notícia de que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, pretende criar uma “Universidade da Guarda Civil Metropolitana” abre espaço para um debate urgente sobre os rumos da segurança pública no Brasil. A medida, ainda que parta de um governo conservador, pode significar mais do que um gesto administrativo: pode sinalizar a abertura de um campo de disputas e de possibilidades para uma política de segurança pública integrada, cidadã e fundamentada em direitos humanos. É importante lembrar que a primeira Secretaria de Defesa Social e Prevenção à Violência do Brasil foi criada em Suzano (SP) pelo então prefeito Marcelo Cândido, do Partido dos Trabalhadores. Naquele momento, buscava-se uma política inovadora, que deslocasse o eixo da segurança pública do patrimonialismo colonial — sempre voltado à proteção da ordem e da propriedade — para uma perspectiva de defesa de direitos e convivência democrática . Infelizmente, ao longo dos anos, essa chama foi sendo apagada e o campo perdeu seu...